2005/08/25

Entornização!

Ora aqui tou eu, Armindo Fagundes Migalhas, ou como disse o meu primeiro chefe, aos meus 12 anos, “ Vê lá se pegas no balde e na massa, ó Migas, e te pões a trabalhar , se não queres levar já 4 bufunfas nessa cara. “ E assim foi.


Desde esse dia já biajei por todas as tascas e mais algumas cá do sítio, a toque de andaime. Uma espécie de Ralie inter-tascas, sabeindes? Mas bamos começar pelo principio.


Ainda puto, a coisa era preta: todos maiores do que eu, mais sabidos, sempre na tasca, e eu ali a bulir. “deixaide-bos tar, pensaba eu. Que ainda bos faço a folha num tarda nada.” Mal pude, apanhei-os todos a dormir a Sexta, sim ledes bem, a sexta sesta do dia, e pimba assaltei-lhes o barraco. Tesos dum caralho. Ó fim de duas horas á procura (sim, a sexta sesta dura muito) só tinha 130 paus.

Ora, naquele tempo 130 paus só dava para ir pra um sitio: Braga.


Perdido de tasca em tasca em Braga (ainda tinham sobrado 20 paus, e uns micos) conheci um jobem (na altura claro), chamado Tone, que atirou:

“Queres ber que te arranjo um arranjinho lá no estaleiro?”. Assim foi.


Aquilo é que foram tempos. Sempre que podiamos (ou seja a toda a hora, pois os tempos eboluem e nessa altura já se praticavam as 8 sestas diárias), Migas, Tone, Nel, Mene, Neca, Tó Mané, Nando , bazavamos para a tasca mais próxima. Bons tempos esses. Era o Moscatel com banana, a superbock com SG-filtro, a superbock com pito d'alice, o tinto com patanisca, era tudo.

E como ao tempo eramos aprendizes, não nos deixavam subir mais do que o primeiro andar, era um pé no andaime o outro na tasca.

Bons tempos. Acabou por correr mal.


E lá fui continuando o inter-tascas, de norte a sul deste nosso cantinho á beira mar plantado, a tascar cada bez mais e a bulir cada bez menos.


As coisas foram ficando mais lixadas. Havia sempre um Igor ou um Eusébio que se queixavam ao chefe que eu não fazia nada e eles é que trabalhavam. Olha o displante.

Atentai:


  • na maioria das tascas dava pra ver a obra. Como sabeindes dá uma trabalheira do caraças um gajo cuncentrar-se em duas coisas ao mesmo tempo: concentrava-me no coirato, na patanisca e no tinto, e de vês enquanto lá lhes deitava o olho;

  • Quando não dava pra ver a obra, arranjava sempre um brasileiro, pois esses ao menos percebem mais do que “massa, masssa”, “água, água” e “trás ai mais uma”, e mais do que isso a gente percebe-os (mais ó menos). Ele lá me binha á tasca contar o que os outros tavam a fazer. Tinha 3 gajos á minha responsabilidade, olhava por eles para que fizessem bem o trabalhinho, e ainda se queixavam que não fazia nada? Já pa não falar das minhas bertiges, que num me deixavam subir o andaime. Uma injustiça, era o que era.


Deambulava já eu meio perdido, na continuação do inter-tascas, quando entro todo de ladex numa tasca e de lá me mandam:


“Como é ó Migas, pataniscas e tinto?”. Esfreguei os olhos e lá tabam eles todos juntos. Os Verdadeiros. Estava de volta.


Vai dai manda o Nel “Olha que vais ser entornizado agora, vais ser dos nossos.” Ainda num percebi muito bem o que é isso da entornização, mas suspeito que tem a ver com binho, uma vez que me deitaram binho pá t-shirt e num parei de beber até me esquecer de que taba a beber.


Quando acordei, abri os olhos e tava quadriculado. Hã, a tijoleira. Olhei para cima e bi: “Quinquilhas, pataniscas e tinto.” Acho que cá bou boltar.



Migas





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