2004/10/21

Um Verdadeiro no Metro

Outro dia ia eu no Metro, quando avistei mais um Verdadeiro.
Apesar de ir numa carruagem diferente, cheirei-o de imediato. Aproximei-me para meter dois dedos de conversa, quando o avisto num dos mais preciosos rituais da cultura Popular Portuguesa: a recolha de cerume do ouvido.
Com a arte que poucos (infelizmente) dominam, o Verdadeiro lá tirou a cêra com a unhaca. Depois de a retirar olhou para ela - analisou a côr e o cheiro - e limpou nas calças.
Apesar de só isso ser suficiente para ver que se tratava de um verdadeiro Verdadeiro, as restantes características acabavam de pintar o quadro: camisa aberta até ao umbigo, pêlos no peito, fio com cruz, bigodaça, cabelo despenteado e ar desconfiado.
Ele há quem diga que se deve ter os ouvidos limpos, mas a cêra é natural e impede os ouvidos de ganharem infecções. Por isso, meus amigos, esqueçam essas manias dos cotonetes e usem a unhaca, que assim só sai um bocado (excedente)!

Pataniscas e tinto!

2004/10/12

Monólogos de rua

Biba gente, tudo a rolar como a azeitona no prato vazio?
Hoje assisti a mais uma cena Popular Portuguesa. Tinha de atravessar a Rotunda da Boavista - estou a fazer um biscate na Casa da Música (pelos vistos ainda vou ter emprego durante muitos anos) - mas estava à espera que os carros passassem (com mais duas ou três pessoas), porque se lembraram de tirar uma das mais utilizadas passadeiras para peões, e não me apetecia andar muito - a outra passadeira ficava longe - quando um Verdadeiro indignado com a situação atira (bem alto): "Filha da puta!". As pessoas olharam para ele e ele continuou: "Paneleiros do caralho, pá!". O mote estava dado. Continuou então o seu monólogo: "Tirarem daqui a passadeira...".
E eu fiquei a apreciar a cena. Sem dúvida estava na presença de um Verdadeiro, um hóme que tem a coragem de falar alto e bom som (numa altura em que se fala de censura) aquilo que lhe vai na alma - e em português correctíssimo!
Lá conseguimos atravessar para a rotunda - pensava que a cena tinha terminado (vós também, não?) - quando de repente o Verdadeiro puxa a perna atrás e enfia um valente pontapé num pequeno ramo que estava caído no chão. Completou o quadro com um "SE!" (esqueceu-se do "DA-") e lá foi resmungando baixinho até o perder de vista.
Se ele em vez do ramo tivesse visto o Rui Rio é que ia ser bonito...

Pataniscas e tinto!

2004/10/09

Regresso às aulas...

Aaaooooouuuuuu!!!!

Atão?
Já devem ter lido (aqueles que de vocês sabe lêr) que eu e o Neca regressamos às aulas.
Mas ao contrário do que ele diz, nós andamos a tirar um curso de formação: "Higiene e Segurança no Trabalho". O patrão obriga, para podermos subir de categoria: de trolha de 3ª para trolha de 2ª. Qualquer dia, chegaremos ao topo e já podemos ter o nosso próprio moço da massa.

Mas não percebo para que serve este curso. Nós já temos as nossas próprias regras: nunca colocamos o pé em cima de uma telha, mas sim nas vigas que as seguram e lavamos as mãos no bidão de 100 litros de água, no fim do dia de trabalho, para tirar o cimento. Não faz falta qualquer curso. O Cerqueira no outro dia caiu do andaime e em troca recebeu uma perna partida e seis meses de férias pagas.... sortudo.

Pois bem... aproveitei o feriado, acordei, lavei os sovacos, vesti o meu fato de treino, os meus sapatos belas e lá fui eu para o hipermercado, em busca das promoções do Regresso às Aulas...
Lápis, afias, compassos, capas, esquadros, canetas de feltro, cadernos e uma mochila do Homem-Aranha.. tudo muito bonito e que há em grandes quantidades, mas eu só comprei uma caneta.

Se ela funcionar....prometo que regresso a contar coisas das aulas....

Abraços!

2004/10/07

A experiência vale mais que dois copos de tinto...

(Ainda assim, prefiro os dois copos de tinto)
Biba minha gente, tá tudo numa broa? (eh eh, o Méne é que gosta desta piada)
Durante as minhas vacances fui à Nazaré - sim, é verdade que desta vez me excedi, mas uma vez não são vezes! - e assisti a mais uma cena que enche de orgulho o peito peludo de um Popular Português.
Estava eu a beber uns finos numa esplanada, enquanto a patroa dava de comer à catraia, quando vejo um grupo de quatro homens - potenciais Verdadeiros - a aproximar-se. Vinham ao longo do passeio, quando três deles - os mais novos - viram para a porta do tasco onde eu estava. O mais velho parou no meio do passeio a olhar para os outros e atira: "Atão?", ao que eles respondem: "Vamos beber!". Ele olhou para eles com aquele ar de quem sente que algo passou da sua geração para a seguinte e rematou com um "Óh porra! Vamos lá!". E rapidamente entrou no tasco.
Em homenagem a esta cena, pedi mais um fino... por cada um dos participantes (incluindo os figurantes, que iam a passar na rua).

Pataniscas e tinto!